segunda-feira, 13 de junho de 2016

Em SFI, dezoito anos de um "milagre"


Existe vida após a morte? Para a jovem Jéssica Martins, não só existe, como é um fato comemorado todos os dias. Quem vê a alegre e extrovertida menina com vários sonhos para o futuro não pode imaginar o quanto ela precisou lutar para sobreviver a uma tragédia logo nas primeiras horas de vida. Jéssica completou 18 anos nesse sábado (11) e a chegada da maioridade marca o início de uma nova fase na vida. Uma vida marcada por perseveranças. No plural, mesmo, de várias pessoas. A mãe de Jéssica, Lucinéia Azeredo da Silva, morreu quando estava no oitavo mês de gestação em um acidente de carro na localidade de Santa Rita, em São Francisco de Itabapoana (SFI), no dia 11 de junho de 1998, ao lado do marido e pai da menina, Willian Pinto Martins. Lucinéia foi levada ao Hospital Manoel Carola, em SFI, mas chegou morta à unidade. Mesmo contra todos os prognósticos dos colegas, o obstetra de plantão, Eduard Chicralla, não desistiu e, após constatar a morte da mulher, então com 21 anos, fez o parto de altíssimo risco no corredor do hospital.

Eduard foi escolhido para ser o padrinho de batismo de Jéssica. Dezoito anos depois do caso que marcou a vida, o médico fez o mesmo trajeto entre Campos, onde mora, e São Francisco de Itabapoana, cidade que trabalhou por 61 dos seus 87 anos de vida. Na mesma RJ 224 onde a tragédia com Lucinéia e Willian fez nascer esta história. Jéssica foi criada pelos tios, Rosiméria Paes Martins e Robson Pinto Martins, hoje com 48 e 52 anos, respectivamente. No entanto, a moça ressalta: “pai e mãe são aqueles que criam”.

Um dia antes do aniversário, Jéssica e Eduard sentam na beirada da cama no quarto recém reformado dela. Abraçados, os dois relembram momentos felizes e o médico ouve da estudante, atualmente no primeiro ano do Ensino Médio, que pretende seguir a carreira de administração ou medicina.

— Minha mãe nunca me escondeu o que aconteceu. Sempre estou com ele nas datas comemorativas, nos nossos aniversários. Primeiramente, agradeço a Deus por não ter morrido, e depois, ao Eduard. Foi pelas mãos dele que pude continuar viva. Ele é meu herói — contou Jéssica, com lágrimas nos olhos.

O frio do inverno vem se aproximando. Os dias cinzas acabam mais cedo e o encontro precisa terminar. Por um descuido, Eduard acabou não levando o presente de Jéssica. Não faz mal. O reencontro já está na agenda do médico que ficou marcado nas páginas desta história.

Redação da Folha é ilustrada pela bebê

Há exatos 18 anos, Jéssica estampava pela primeira vez as páginas da Folha da Manhã. A história da bebê foi acompanhada de perto pela equipe de reportagem do jornal em uma série que comoveu a região. A bebê ficou internada 17 dias em Campos antes de ser liberada pelos médicos.
— Foi um suspense muito grande no dia. Ficamos naquela expectativa. A equipe médica não dava notícia para nós. Só esperávamos o pior. Mas, com muita fé em Deus, chegamos até hoje. Deus deu essa vitória. Restituiu a vida para ela. Pela equipe médica, ela não tinha jeito. Ou se, caso sobrevivesse, não iria ser normal, teria problemas — relatou a mãe de criação da garota, Rosiméria Martins.

Aquele dia 11 de junho de 1998 foi um feriado de Corpus Christi. Na redação da Folha da Manhã, a jornalista Carla Cardoso e o repórter fotográfico Genilson Pessanha foram alguns dos responsáveis pelo plantão de feriado. Os dois participaram da cobertura da tragédia seguida pelo nascimento de Jéssica.

— Fico muito emocionada em saber que a Jéssica está completando 18 anos. Foi um acidente terrível, mas acompanhar o nascimento dela vai ser algo que eu nunca mais vou esquecer — afirmou Carla.

O caso teve repercussão nacional, com reportagens em jornais como O Globo, Extra e O Dia. Para que o momento não seja esquecido, a fotografia de Jéssica ainda na maternidade feita por Genilson Pessanha ilustra a redação da Folha.

Tragédia marcou o início de um recomeço

Reginaldo Martins Viana, hoje com 61 anos, é primo do pai de criação de Jéssica, Robson Martins, e do pai biológico da menina, Willian Martins. Ele estava no carro no momento do acidente, na localidade de Santa Rita, a aproximadamente 5 km de SFI. Naquele dia, a família estava indo para uma festa de aniversário em Campos. No entanto, um trator saiu de uma estrada de chão, atravessou a pista e o carro dirigido por Willian acertou em cheio o outro veículo.

— Do acidente eu não me lembro de nada até hoje. Eu apaguei. Tenho minha face quebrada em quatro lugares, perna quebrada. Eu estava no banco atrás do motorista. Levei 11 dias hospitalizado — relatou.

Apesar da tristeza pela perda de uma parte importante da família, Reginaldo não esconde a felicidade e a gratidão ao médico Eduard Chicralla. 
— Hoje para gente é uma alegria, uma grande bênção de Deus com esse senhor do lado aqui (Eduard). Essa aí é cria nossa, o neném que temos aqui — afirmou.

Já Rosiméria Martins era, acima de qualquer coisa, grande amiga de Lucinéia. Ao lado do marido, Rosiméria criou Jéssica e teve a filha que não pôde ter por condições biológicas.

— Uma alegria muito grande tê-la como filha. Ela sempre foi uma filha maravilhosa, obediente, educada, gosta de estudar. Ela é um exemplo de filha. Não tem explicação. Coisa de Deus mesmo. Ele (Eduard) foi um enviado de Deus naquele dia, naquela hora, naquele momento. Acho que Deus tem um plano muito bom para a vida dela. A cada dia que passa é uma prova maior — finalizou.

As informações são do jornal folha da manhã (aqui).





Fonte: Folha da Manhã
Fotos: Rodrigo Silveira, Genilson Pessanha e Reprodução

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